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Desvendando "A Pátria" de Pedro Bruno
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| Réplica de "A Pátria", conforme presente em nosso acervo. |
"Pintura 'A Pátria' (1909)
No Brasil, a partir de meados da década de 1890, depois de superada a instabilidade dos anos iniciais da República, vamos encontrar uma série de edifícios públicos sendo reformados ou construídos, nos quais a arquitetura, a decoração de interiores, a pintura e a escultura se farão necessárias[...] O país se firmava como nação independente e republicana, e a arte era considerada um lugar privilegiado para pensar a sociedade. O desejo de modernidade, de participar da rota do progresso, tornar-se uma grande nação, desfazer a imagem do exotismo tropical, do atraso e da inércia, permeava as mentes esclarecidas. Esses ideais, ao lado de outros emblemas e símbolos nacionais, contribuíram expressivamente para a formação da ‘alma’ dos brasileiros.
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| Pedro Bruno, autor da obra. |
Pedro Bruno passou a frequentar a escola Nacional de Belas Artes como aluno de Baptista da Costa e, em 1919, conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro com aquela que talvez seja a sua famosa tela, “A Pátria”. Esta tela é uma alegoria, a máxima representação de uma expressão, de um sentimento da nação, mas também da construção do imaginário coletivo. Numa temática extremamente simbólica, Pedro Bruno utilizou-se de vários artifícios da técnica pictórica para a elaboração dessa tela, que hoje encontra-se na parede do salão Ministerial do Museu da República. Todos os que observam a pintura, mesmo os menos iniciados apreciadores de arte, não poderão deixar de se impressionar. Aproximando-se dessa obra de dimensões consideráveis (1,90 X 2,78 metros), percebe-se, em um primeiro momento, a construção de uma cena bucólica e familiar. A confecção da primeira Bandeira da República brasileira é uma alegoria ao nascimento do novo sistema de princípios positivistas no Brasil.
Com uma fatura impressionista, mas com iconografia complexa e rica em detalhes, a tela é invadida por uma luz intensa, que ilumina a criança com a bandeira, figura central do quadro. A cena formada principalmente por mulheres nos remete a Marianne (símbolo da Revolução Francesa). A mãe que alimenta o bebê (este representando a República que nasce), as várias crianças, as distintas gerações que formam essa nação, onde todos se empenham em oferecer suas contribuições. Quase dissolvido nas sombras, o velho, representa o passado. No quadro se destaca a luz intensa (a luz da República) contrastando com áreas de sombra. Uma sombra sem tristeza, pois esta simboliza um passado de glória. Alegoria, do grego 'allegoreno' ('allos', "outro" e 'agorein', "falar") significa 'falar de outro modo'; falar de outra coisa que não de si mesma. Já o símbolo, aproxima dois aspectos da realidade em uma unidade bem-sucedida ('sym', "conjunto'; 'ballein', "lançar", "colocar").
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| A obra exposta no Museu da República. |
Pedro Bruno, em sua alegoria, não poderia deixar de mencionar as figuras de nossos heróis e mártires, símbolos da luta pela sobrevivência da Nação brasileira, estes representados ao fundo da tela: Tiradentes, Marechal Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant. Tiradentes, representado no seu derradeiro momento (de camisolão e com a forca ao lado); Marechal Deodoro da Fonseca, aparece num típico retrato oficial e Benjamin Constant, traja a farda que usou na Guerra do Paraguai.O esplendor e o fausto da época do império cedem espaço à simplicidade do ambiente da casa popular brasileira: da esteira de palha onde repousa o bebê às damas, filhas e esposa de Benjamin Constant que, sentadas ao chão, costuram a Bandeira, símbolo máximo da nação.
Isabel Sanson Portella



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